Você é Gillian, bartender no VA-11 Hall A, carinhosamente apelidado de “Valhalla”. Um pequeno bar no centro da cidade que chama atenção de diversos tipos de pessoas. Sirva bem seus clientes e você será capaz de ouvir suas histórias mais interessantes.
É uma premissa um pouco inusitada para um videogame e o que me chamou atenção não foi o fato de você ser um bartender em um cenário cyberpunk, mas pela descrição que os próprios criadores deram:
“Cyberpunk Bartending game with waifus”
VA-11 HALL-A é basicamente um visual novel com elementos de puzzle situada em um universo cyberpunk com personagens fortemente inspirados em anime. Surgiu como um dos participantes da Cyberpunk Jam dentro do Itch.io. A Sukeban Games, composta por um artista, um programador e um músico, gostou tanto da ideia que resolveu tocar o projeto para frente e transformar em um jogo completo.
É possível jogar uma versão em desenvolvimento para tentar entender como se desenrola. O jogo possui uma interface padrão de visual novel e a interação se dá basicamente por texto, mas os elementos de puzzle mencionados ocorrem através da preparação de bebidas.

Um cliente fala o que quer e você tem que preparar a bebida arrastando os ingredientes para a coqueteleira. Quando um drink já foi mencionado, você tem que preparar de memória. É um daqueles sistemas em que ou você tem uma boa memória ou vai ter que jogar com um bloco de notas do lado.
Em poucos minutos você já tem que preparar um drink que já foi feito. Claro que me embananei todo, já que minha memória é algo lastimável. A maneira como você prepara o drink, determina o percurso do diálogo, gerando múltiplas possibilidades.
VA-11 HALL-A é um daqueles jogos em que poucos minutos são o bastante para entender do que se trata e curtir a atmosfera que fornece. A arte remetendo aos 90, os diálogos envolventes e curiosos, a trilha estilo Hotline Miami que ao tocar você só quer dançar que nem um louco. Fiquei realmente impressionado.
“Estava discutindo algumas ideias com um amigo sobre o que poderíamos fazer para a Game Jam e propus a ideia de ‘um personagem que nunca ganha destaque em histórias Cyberpunk’ — existem vários personagens que podem caber nesse critério mas o primeiro que veio na minha cabeça foi o bartender” conta Christopher “Kiririn 51” Ortiz, game designer e artista do jogo. “Em filmes como Blade Runner, só acompanhamos a história do herói, o combatente do crime durão, mas você nunca tem a chance de ver o que as outras pessoas desse tipo de sociedade fazem, então o que fizemos foi pegar um bartender clássico de filmes Cyberpunk e colocar o foco nele”.

Se pararmos para analisar, foi uma boa escolha controlarmos um bartender, já que ele conversa com uma variedade de personagens desde executivos, criminosos, mercenários, hackers e até o próprio herói combatente do crime. “Esse é o princípio básico do jogo, tudo está ali e eles vão contar para o bartender diversas histórias” acrescenta Ortiz.
O fato de utilizar a estética de animações japonesas foi bem natural. Ortiz se auto denomina um artista bishojo, esse é o estilo que ele está mais familiarizado mas diz que está sempre em busca de iterar seu estilo. “Atualmente estou estudando artes de animes antigos encontrados em jogos de NEC PC-98, como Policenauts e Snatcher”.
Sobre os personagens, Fernando “Ironic Lark” Damas o roteirista e programador do jogo, acredita que “até o desgraçado mais desprezível encontrará seus fãs se vai além de um corte bidimensional de papelão com um papel estampado em seu rosto”.
Além dos jogos mencionados, VA-11 HALL-A se inspira basicamente em obras japonesas que exploram essa temática Cyberpunk como o supracitado Ghost In The Shell e a primeira versão do anime Bubblegum Crisis, fundida com a sensibilidade artística moderna, diz Ortiz.
Ele também comenta que um personagem foi criado enquanto escutava em looping a música tema do anime, Konya Wa Hurricane.
Falando em música, a trilha sonora composta pelo Michael “Garoad” Kelly me fez lembrar o mesmo que senti ao jogar Hotline Miami: transmite a estética e atmosfera da obra, além de ser extremamente vibrante, empolgante e dançante. Ortiz diz que Kelly é fortemente inspirado no trabalho do compositor Kenji Kawai que fez a trilha de Ghost In The Shell, Ranma ½ e a versão original de O Chamado.
O jogo será lançado primeiramente em versão reduzida, VA-11 HALL-A: Prologue. “O nosso plano é lançar o Prologue, pegar o feedback e utilizá-lo para melhorar o jogo final. Nós queremos identificar quais são as melhores partes, retirar a gordura e descartar tudo que o deixe chato, enquanto também melhoramos a agência do jogador e polimos tudo”.
Essa versão é algo mais enxuto e direto, serve para pontuar do que se trata o jogo e familiarizar o jogador com as mecânicas, personagens e o universo. Não terá os múltiplos caminhos encontrados no jogo completo.
No momento, é possível pré-comprar o prologo por cinco dólares e receber a build mais recente. A equipe está coletando o máximo de feedback possível pelo tumblr e pela página no Greenlight, para Ortiz é aquilo está gostando mais sobre o jogo.
“A maneira como você consegue criar uma base de fãs do nada no Tumblr é fantástica, todos os nossos testers internos vieram da comunidade e seu feedback tem sido incrivelmente útil”.