Originalmente publicado em 20/03/2019
Jogar sem ter um computador potente ou um console, apenas pelo poder da internet: essa é aposta exibida pelo Google para a próxima geração de games.
Tal qual a realidade virtual, o streaming é uma tecnologia que está sendo explorada a anos sem relativo sucesso e só conseguiu coletar os frutos agora. O grande problema era a disponibilidade em diversos territórios, conexão instável e a biblioteca de títulos.
Pouca gente investiu nessa ideia e, apesar do deboche por ser algo tido como inviável, não é algo tão impossível assim. Em 2012 a Square-Enix deu de graça Hitman Blood Money e Tomb Raider Underwold para testar no Core Online, serviço de streaming de graça pelo browser.
Lembro de ter testado na época e tido uma performance surpreendentemente boa considerando a minha internet. Também não podemos esquecer do Onlive, que, apesar de funcionar apenas nos EUA e Reino Unido, teve seu espaço como precursor da ideia de jogar pela nuvem.
Hoje, existe uma divisão do o que é jogar por streaming. De um lado temos aplicativos que pegam o seu computador e fazem uma transmissão de seus jogos para qualquer outro aparelho. Eles utilizam sua conexão e o poder do seu PC para transmitir para TV, celular ou qualquer outro dispositivo.
O Steam Link, que só transmitia dentro da sua conexão local, agora deixa você transmitir em qualquer lugar desde que tenha o aparelho ou o aplicativo instalado. Outro serviço semelhante, o Rainway parte do mesmo princípio, basta ter o aplicativo instalado. O seu diferencial é que ele agrega todos os jogos instalados na sua máquina, sejam eles do Origin, Blizzard ou do Steam.
Do outro lado, temos aquilo que pode ser a revolução, o conceito do OnLive só que bem mais palatável. Um serviço onde o poderio para gerar ótimos gráficos vem de um servidor parrudo e transmitido pela nuvem. Tudo que precisa é de uma conexão estável.
A Microsoft deu uma explorada nesse território quando disse que parte do multiplayer de Crackdown 3 seria dentro da nuvem, outra possibilidade que o futuro pode trazer. O resultado final não foi bem assim, mas ela depois viria a anunciar o xCloud, sua entrada no mercado de streaming.
É aí que entra o Google e tudo fica meio nebuloso, confuso e assustador.
É impossível ignorar todos os problemas que são atrelados a maior empresa de tecnologia do mercado. E ao assistir sua apresentação na GDC deste ano, isso só fica mais aparente.
Stadia, é a plataforma online baseada na nuvem que roda em qualquer aparelho da empresa ou que tenha o Chrome instalado. Vai rodar jogos na qualidade mais alta possível e vai depender totalmente da sua conexão de internet.
A apresentação se focou em como funciona na prática, as tecnologias por trás que fazem ela funcionar, parceiras de pessoas estabelecidas na indústria de games e novidades interessantes.
Esse é o primeiro passo do Google no mercado de games, tanto que, além de se juntar com Ubisoft, id Software, Q-Games, a empresa vai montar o seu próprio estúdio para lançar títulos exclusivos.
Certo, mas o que o Stadia traz de novo?
Transmissão em 1080p, 4K para qualquer aparelho, a possibilidade de cross-plataform, jogar multiplayer split-screen sem perder performance, baixa latência e as transmissões serão baseadas em um servidor com 10.7 teraflops de GPU, que significa ser mais potente que a concorrência.
Somado a isso, a maior novidade para os desenvolvedores é aquilo que a Microsoft vendia sobre Crackdown 3 anos atrás. São diversos elementos específicos que criam uma nova fronteira para games já que serão todos renderizados na nuvem e o Stadia é aberto, qualquer desenvolvedor pode ir e fazer o seu rolê.
Além das tecnicalidades, a vantagem de ter uma empresa enorme de tecnologia por trás são os recursos disponíveis. Eles têm servidores pelo mundo inteiro, o que pode tornar um serviço de streaming realmente uma realidade palpável. Além de serem donos do Youtube, significando uma integração forte com a plataforma.
Será possível iniciar jogos disponíveis do Stadia diretamente pelo YouTube, quando terminar um trailer pode clicar e já entra para dentro da ação. Você consegue transmitir o que está jogando facilmente e se uma personalidade que gosta está jogando NBA por exemplo, você pode ficar de próximo, criando um lobby dentro do próprio YouTube.
Também será possível jogar com outras plataformas (não ficou claro se é dentro do ecossistema do Google ou com Xbox/PS4/PC) e pode facilmente continuar seu jogo em outro aparelho, além de ser muito fácil compartilhar seu saves com seus amigos.
Ah, tem um controle deles que pretende reduzir lag ao se conectar diretamente ao seu wifi. Além de contar com botões de fácil acesso para o Google Assistant e conexões com o YouTube.

Uma análise mais técnica do poder que ele possui e seus problemas podem ser encontrados no ótimo texto do Richard Leadbetter da Digital Foundry lá no Eurogamer.
Ao longo da semana teremos mais informações daqueles que estão testando o serviço lá em São Francisco, mas já conseguimos ter uma noção do que Stadia é e para onde ele quer ir em termos técnicos. Teremos mais informações no verão, época de E3 e temos previsão dele sair ainda este ano para EUA, UK, Canadá e Europa.
Claro que não ter o Brasil é chato, mas é bom lembrar da nossa infraestrutura de internet, embora eu ache que se tem uma empresa que pode conseguir tirar um serviço desses do papel é o Google.
Dos problemas, esse é o menor já que em vez de nos elucidar com o futuro, sinto que estou mais com medo e bem confuso.
Confuso porque ainda existem diversas questões importantes que deveriam ser explicadas ou pelo menos introduzidas aqui. Não ficou muito claro se é um serviço, apesar de todos os sites estarem apontando isso. Também não sabemos como a loja vai funcionar, se você utilizará a conta do Google Play para pagar pelos jogos ou se haverá um sistema de assinatura.
Nada foi dito sobre o quanto de conexão de internet é preciso para ter uma experiência decente, nem que tipos de jogos estarão disponíveis.
São diversas questões sem resposta e que precisam de uma resolução assim que possível. Também existe aquele medo de como a Google vai lidar com tudo isso, porque é só lembrar de como eles estão cuidando do YouTube, que se tornou basicamente uma terra de ninguém.
Ao mesmo tempo que é empolgante ter uma empresa com essa quantidade de recursos fazer algo que pode levar a indústria em uma direção diferente, precisamos lembrar que é o Google e tudo que ele representou e representa nos últimos anos.
Finalmente uma mudança significativa na tecnologia permite levar games para um futuro, mas esse futuro é cheio de incerteza e um pouco amedrontador.