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Embed With Games e as novas maneiras de se falar sobre games

Cara Ellison aborda de maneira intimista como podemos nos conectar com videogames e seus criadores.

Originalmente publicado em Outerpixel em 17/03/2016

Cada vez mais as pessoas por trás da concepção de um jogo estão nos holofotes. Com a facilidade de distribuir e criar um jogo, qualquer um pode usar a mídia para expressar aquilo que como quiser. O mais fascinante é essa mudança cultural que estamos experienciando, diferentes abordagens, vozes únicas aproveitando tudo aquilo que interações digitais podem oferecer.

Embed With Games: A Year On The Couch With Game Developers da Cara Ellison, fornece uma visão mais intimista e próxima desses criadores, sejam eles renomados ou totalmente desconhecidos do público. É uma coleção de ensaios feita pela jornalista escocesa durante 2014, viajando pelo mundo vivendo um pouco com os criadores, conhecendo mais a parte artística, emocional e humana de cada um. Financiada pelo Patreon, ela conseguiu apoio para um projeto ambicioso e único se levarmos em consideração o estado atual do jornalismo de games. Muita coisa incrível vem acontecendo no jeito em que escrevemos sobre jogos eletrônicos, e a maioria provém de produtores independentes, enquanto os grandes veículos (que ainda soltam coisas muito boas aliás) estão comendo algumas moscas no caminho em nome de condições monetárias.

Na verdade, o livro serve de exemplo para mostrar como uma/um escritora/escritor consegue sustentar o seu ofício através de uma comunidade fiel que curte o trampo. Também ilustra como é complicado sair fora da caixa nesse meio possuindo apoio financeiro que suporte o seu projeto, além de mostrar uma das infinitas possibilidades sobre o quão diferente uma cobertura de games pode ser.

Aos longos dos doze capítulos, temos pequenas conversas que abordam diversos aspectos de desenvolvimento de games, análise crítica, impacto cultural artístico na sociedade, papel da imprensa nos videogames, jornalismo e pequenas inserções envolvendo pequenos causos de Ellison nos países em que ela viaja.

Cada capítulo consegue de uma maneira muito natural, extrair uma conversa interessante sobre as intenções de um autor na hora de criar uma obra por exemplo. Cara comenta que se sentiu mal ao jogar Problem Attic da Liz Ryerson, comparando a mesma vibe que teve ao ouvir Disintegration do The Cure. Ao mesmo tempo que esse comentário deixa Liz um pouco triste, é algo que ela procura buscar através de seus jogos.

https://tinyurl.com/ydx8387p

Em outro temos o jovem Ojiro Fujimoto, designer de Downwell, que até o momento em que o artigo original foi escrito, ninguém fazia ideia de que ele era e do que seu jogo se tratava. Alguns meses depois, as aventuras do herói de botas atiradoras pegou o mundo inteiro desprevenido aparecendo em listas dos melhores jogos do ano. É interessante ver como esse simples desenvolvedor japonês que pertence a uma nova geração cita Braid, Cave Story e Super Meat Boy como inspirações para ter começado a desenvolver algo próprio.

Dias antes, Cara escreveu sobre Ojiro para o The Guardian que iniciou a conversa dele com a Devolver Digital que mandou um e-mail perguntando se poderia publicar Downwell. São nas próximas páginas em que autora tem uma epifania sobre a importância que um jornalista/crítico pode ter na obra de alguém funcionando também como uma reação a importância do livro.

Ao praticar “embed journalism” Cara se expõe junto com os entrevistados, não é só uma coleção de ensaios sobre desenvolvedores e suas reflexões sobre a mídia mas também um documento sobre alguém disposto a contar de maneira honesta como é ser criador nesse período fértil de desenvolvimento de jogos. Seja seus comentários sobre a aparência de Tim Rogers, suas desventuras em Tóquio ou sua descrição sobre Califórnia, esse também é um livro sobre Cara Ellison.

Serve um pouco de inspiração para um momento no qual não existe muita ambição na maneira em que falamos sobre jogos. Embed With Games é apenas um pequeno exemplo do impacto que a cobertura de games pode ter, da importância em que existe em escrever honestamente sobre o quão incríveis os videogames podem ser.